Tudo começou em 1995.
Na verdade, começou bem antes.
Em 1992, totalmente encantado pelo seriado Jornada nas Estrelas, ficava horas e horas pensando sobre as naves e seus designs incomuns.
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Enterprise |
Um dia, por acaso, caiu em minhas mãos uma edição do suplemento de informática do jornal O Globo. Nele havia uma pequena reportagem sobre o significado da numeração que havia no casco da Enterprise (o NCC, ou Naval Construction Code, Código Naval de Construção).
Enfim, o que me chamou atenção na reportagem em si foram as ilustrações do genial Glauco Cruz. A Enterprise havia sido desenhada como uma junção de objetos comuns - o casco primário e seu suporte eram o braço de um garçom carregando uma bandeja, o casco secundário era uma garrafa e os propulsores eram duas velas. Vendo aquilo percebi o quanto coisas aleatórias podiam ser unidas para fazer algo conhecido.
Poucos meses depois comecei a fazer espaçonaves com sucatas. Jornada nas Estrelas, Guerra nas Estrelas, Espaço:1999, Galactica - Astronave de Combate - qualquer das naves podiam ser criadas a partir de pedaços de canetas esferográficas, tampas de refrigerantes, peças de brinquedos, etc. No final de 1993 eu já tinha duas caixas de sapatos repletas de miniaturas.
Foi nessa época que comecei a perceber que, por mais que as naves fossem fantásticas, eram as dinâmicas de relação de seus ocupantes que faziam minha imaginação viajar. Imaginava - e escrevia pequenos contos - sobre as aventuras deles, seus reveses, suas disputas, etc. Comecei a desmontar as naves e percebi que podia recombinar as peças para formarem personagens. Mas não os que via na tv: personagens novos, saídos diretamente da minha imaginação.
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Não era bem assim: era melhor! |
Resumindo, na metade de 1995 eu tinha montado um complexo de módulos em caixas de sapatos e whisky ocupados por aproximadamente 100 personagens diferentes, baseados em outros personagens de ficção e aventura, mas criados por mim. Cada um tinha suas características e background totalmente diferenciado. Os módulos, quando unidos, formavam uma enorme base ou estação, composta por Centro de Comando, Centro Médico, Corpo de Bombeiros, Deck de Suprimentos e Armazenagem, Usina Geradora de Energia, Quartel Militar, uma Plataforma de Desembarque a aproximadamente 10 naves (incluindo caças, cargueiros, naves de patrulha, manutenção e transporte). Era algo tão gigantescamente complexo que só podia sair da cabeça de um garoto de 16 anos retraído, devorador de ficção científica, sem namorada e com pouquíssimos amigos.
Um dia decidi que estava velho demais para aquilo tudo e, uma por uma, desmontei a grande maquete.
Nos últimos meses decidi que estava com saudades, e resolvi voltar a criar!
Naquela época não haviam câmeras digitais, nem blogs... registrava o que fazia em cadernos - que também foram fora. Hoje tudo está mais fácil e pretendo fotografar e registrar meu progresso nesse blog. Não tenho a pretensão de alcançar vários leitores - talvez só eu leia isto. Mas, pelo menos, terei fotos e registros do que pensei nesse momento, enquanto me preparava para voltar a fazer algo que alguns podem pensar que é besteira, perda de tempo.
Talvez seja, talvez seja... não sei. Criar algo que não existe a partir de coisas que existem para outras coisas. Ver a forma inacabada em algo que outros não percebem nada... preciso disso: criar, experimentar, deixar a mente vagar.
Bom, mãos à obra. Hoje, 08 de agosto de 2014, vinte anos depois, as 20:39, recomeço esse fazer sem sentido para os outros, mas que pra mim encerra um milhão de significados.